vendredi 29 avril 2011

NOS AMIS PORTUGAIS





À descoberta da nossa identidade



Após um prolongamento até ao passado dia 23 de Abril, esteve patente no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) a exposição “Primitivos Portugueses (1450-1550).
O Século de Nuno Gonçalves”, que reuniu mais de 160 pinturas dos séculos XV e XVI.
Mostrando ao público todo o conhecimento entretanto atingido sobre a pintura portuguesa, levanta de novo as questões de uma “originalidade artística” e de uma “identidade nacional” associadas ao brilhante ciclo criativo iniciado por Nuno Gonçalves.

Subindo a escadaria do MNAA até ao último piso, o visitante era automaticamente surpreendido pelo magnífico retábulo do Mosteiro da Trindade, datado de 1537, cuja remontagem integral se fez aqui pela primeira vez.
Um óptimo início para uma viagem pela chamada “Escola Portuguesa” dividida em vários núcleos.

O primeiro, dedicado ao século XV confrontava Nuno Gonçalves com os seus contemporâneos. De seguida, era possível apreciar os principais retábulos do início do século XVI e o gosto pela pintura flamenga. Depois, o núcleo dedicado às oficinas de pintura de Coimbra, Guimarães e Viseu, até se chegar à grande oficina de Lisboa e à figura de Jorge Afonso.
Por fim, os tempos de mudança e um processo de renovação ao “modo de Itália”, concluindo com os novos autores que transpuseram os meados do século XVI.
Comissariada por José Alberto Seabra de Carvalho, “Primitivos Portugueses (1450-1550).

O Século de Nuno Gonçalves”, incluiu também um núcleo no Museu de Évora dedicado aos pintores luso-flamengos e às oficinas activas na cidade no início do século XVI. Destaque ainda para a mostra da análise das obras com recurso às novas tecnologias, como raios x, reflectografias e o recurso a infra-vermelhos, que permitem ver o projecto original e o processo criativo dos seus autores.
A parte final da exposição, uma secção documental bastante interessante que encerra com um documentário cinematográfico de António Lopes Ribeiro, produzido pelo SNI em 1956, dava conta da historiografia dos chamados Primitivos Portugueses desde 1910.
Este foi o ano da primeira apresentação pública dos Painéis de São Vicente, na Academia de Belas Artes de Lisboa, organizados pelo crítico José de Figueiredo e restaurados por Luciano Freire. Em 1912, os Painéis seriam incorporados no MNAA e entre 1925 e 1929 iniciava-se uma acesa polémica entre críticos e historiadores em vários jornais, sobre a autoria da obra e a identidade das figuras retratadas. Discussão que, há que dizê-lo, continua até aos nossos dias.

A internacionalização dos Painéis deu-se com as exposições de Sevilha, em 1929, e de Paris, em 1931, organizadas por José de Figueiredo. Em 1940, no âmbito da Exposição do Mundo Português, foi organizada a grande exposição “Primitivos Portugueses (1450-1550)” por Reynaldo dos Santos. No discurso de abertura afirmou: “esta exposição é, perante a História da Arte, a confirmação, desta vez decisiva, da luminosa intuição de José de Figueiredo – a existência de uma Escola de Pintura Portuguesa”.

Setenta anos depois, volta a ser apresentada ao público, numa iniciativa do MNAA a louvar, que só é pena que não se prolongue ainda por mais tempo.

A pintura portuguesa existe, gera interesse e recomenda-se.

O Renascimento Português é, felizmente, um assunto que está longe de estar encerrado.

[publicado na edição desta semana de «
O Diabo»]

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